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"Rapadura é doce, mas não é mole!"

Eu tenho dinheiro? Não!

Resolvi fazer umas dívidas e viajar por 4 dias? Sim!


O texto de hoje nessa coluna "Sem Cortes" pode parecer um diário. Mas, durante o meu questionamento pessoal sobre a relevância das minhas experiências, eu me lembrei de muitas colunas que já li e acompanhei. Enquanto elas eram escritas por mulheres brancas, nem eu mesma achava inoportuno o tema escolhido. Quando eu estava lendo colunas de mulheres pretas, sempre me ocorria o pensamento "mas será que ela deveria ter tocado nesse assunto?". Acredito que isso já tenha acontecido com algumas das leitoras deste site. No entanto, estou aqui. Me lanço com coragem e venho contar minhas histórias de existência.

Foto: Vanessa Aragão

Pois então, voltando ao meu projeto de viagem. Fiz minhas contas, estourei limites de cartões de crédito e fui. O ponto que me fez decidir ir foi exatamente saber que eu sempre faço contas, sempre chego no limite do cartão de crédito e, na grande maioria das vezes, eu só tenho uma vida normal, um mês normal, sem viagem nem extravagâncias. Durante muito tempo, nem crédito na praça eu tinha para ter chance de novas dívidas. E de que isso importa, Lugana? Eu vou responder no próximo parágrafo! rs


Quando eu cheguei, encontrei o seguinte cenário na minha casa: a geladeira pifou de vez, descongelou mesmo ligada e escorreu pela cozinha. Não sei que dia foi isso porque já tinha secado, mas ainda havia provas na cena do crime. Coloquei as malas no quarto em segurança e fui buscar minha filha que ficou com minha mãe no fim de semana até eu chegar. Peguei a criança e tchanram! Ela estava quentinha, relatando dorzinha de cabeça, no termômetro deu 38 e uns quebrados.


Isso tudo era domingo, tá? Dia que eu acordei as 6h13 animadíssima para o café da manhã especial da viagem, depois entrei num parque e fiz um belo passeio, o almoço foi uma costelinha também sonhada e no aeroporto tomei um sorvete porque cheguei muito cedo (antes do horário do vôo) e foi a última ostentação do dia.


Não tinha gastado todo o meu dinheiro porque eu nunca deixo de pensar no amanhã. Sempre entra na minha conta que pode acontecer alguma desgraça e eu precisar de dinheiro. Aí foi isso: passei a noite em claro, acordando para dar remédio, fazer compressa na testa e medir temperatura. Quando cochilava, a criança acordava. Depois dei banho para abaixar a quentura e ficamos nesse ciclo sem fim até o amanhecer.


Na segunda de tarde falei com um rapaz para olhar a geladeira e o serviço aconteceu a terça. Na noite de segunda para terça eu também não dormi, preocupadíssima com a criança, mas ela dormiu sem febre e durante a noite toda. Mas, é óbvio que eu pensei: é castigo, né, Orixá? Quem mandou você achar que podia viajar, visitar aquário e que poderia voltar disso e só ficar olhando suas fotos com saudade?


Tive um tempo de aceitação do destino e da fé, onde eu disse para mim mesma "ainda bem que eu fui feliz vendo o tubarão". rs


Estou aqui me perguntando o que aprendi com essas últimas escolhas. Acredito mesmo que a vida daria a volta nessa pedra e, mesmo que eu não tivesse viajado, tudo aconteceria assim. Geladeira, febre de menino e todas as outras coisas que rolaram, altas confusões. Isso aqui pode até funcionar como diário mas eu tenho limites, não precisamos largar todo o doce! kkk


Mesmo que eu me pegue em dúvida se mereço boas experiências, chances de gozar a vida e oportunidades de realizar coisas que eu quero - desde as mais simples - eu tenho certeza de que não devo me arrepender.


Ninguém pode, nem vai, realizar os meus desejos por mim. Mas talvez no meio do caminho, dentro do meu processo, eu encontre gente que fique feliz em partilhar qualquer perrengue comigo. Até poder, poucas vezes, desfrutar das coisas boas! hahaha

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