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Analisar e excluir


Foto: Miguel Á. Padriñán

Quando mercúrio estava retrógrado, o meu e-mail parou e me ordenou excluir algumas coisas. Arquivos, mensagens, vídeos, fotos, e-mails com textão, etc. Essa coisa do "sincronizar dados", né? Muitas coisas eu nem lembrava mais que existiam, muitas coisas foram de celulares antigos que já nem tenho mais, muitas frases foram de sentimentos e corações antigos que já nem cabem mais.


Como sou dada às nostalgias, não consigo excluir as mensagem sem abrir para dar pelo menos uma olhadinha. Nessa atividade me perco por horas, lendo, relembrando, chorando, excluir e deixando ir de uma vez por todas velhas passagens. Não sei porque guardei tanto passado, mas acho que pode ter sido pelo motivo que está acontecendo agora.


O objetivo do destino era me fazer olhar para meu eu de antigamente, assim posso reconhecer as causas antigas dos gatilhos da ansiedade atual, posso reconhecer o padrão do meu comportamento nocivo comigo mesma, e posso talvez enfim decidir que não quero no futuro esvaziar uma caixa de e-mail com tanto apego e agonia no peito.


Entre tantas coisas sem importância, encontrei fotos antigas com grandes amigos, foto que fiz em entrevistas com gente importante, fotos de parte da minha história sendo escrita e também desenhada ao mesmo tempo pelas fiandeiras.


Eu não usava instagram como hoje, né? Arquivo e salvo milhões de publicações e fotos. Não sei se era só eu ou se todo mundo fazia isso, mas eu acho que pensava que a capacidade do e-mail era infinita e me mandava fotos que não queria perder. Tenho fotos do meu primeiro cinematerna com SB, eu absolutamente triste, vejo isso na foto e me lembro com pesar. Mas guardo porque tem ela, e é muito difícil desapegar de fotos que tem ela, mesmo que em várias dessa fase antes de 1 ou até 2 anos, ao olhar a imagem eu seja teletransportada automaticamente para os momentos mais tristes da minha vida.


Encontrei os arquivos e peças gráficas da minha primeira empresa, Receita de Menina. Ninguém aqui sabe que eu vendia bolo, né? hahaha! Nessa época eu acreditava que o mundo corporativo não servia para a mãe que eu queria ser, e pensei em vender bolos para poder trabalhar de casa e criar a menina. rsrs! Eu fiz muitos bolos tarde da noite ou de manhã bem cedo, depois de alimentar o bebê com leite materno, amarrar o bebê no sling e então começar a bater a massa do jeito que sempre vi minha avó Naná fazer. Essa ideia surgiu assim, das minhas mais doces lembranças da infância, quando estava na casa de minha avó, no interior da Bahia, sentada na escadinha que dava para o quintal, esperando a vasilha da massa de bolo pra raspar. Toda vez que penso nisso, ouço música em meus pensamentos. Todos os movimentos de minha avó naquela cozinha pareciam uma dança com orquestra ao fundo, era música clássica e balé, ao vivo.


Encontrei meus planos de viagens antigas, sinto vergonha e pena de mim por ter dado importância aos lugares mais bobos do mundo, e também por não ter realizado outros feitos mais notórios. Vejo que já fiz muitos planejamentos na vida, coisas que eu tinha esquecido e que agora está explicado porque não quero mais fazer, alguma coisa nessas mensagens de e-mail me dão a impressão quase palpável de que não deu certo. Tive outras empresas também, kkk! Em outro post eu comento, viu?


Dietas que não evoluíram, orçamentos que duraram poucos meses. Vejo aqui todos os atropelamentos que sobrevivi, e só em alguns casos anotei a placa do caminhão. Me sinto devorada pelos meus sonhos e lembranças da época. Estou "liberando espaço" como o dono do e-mail mandou.


Não consigo dormir com todos esses pensamentos fervilhando na minha cabeça. Aumentei um pouco as minhas chances de ser capaz de aceitar os novos 15GB que a vida tem para me oferecer.

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