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Uma pílula sobre o maternar

Talvez o texto desta semana não encontre leitores tão dispostos porque, para muita gente, esse assunto é cansativo. Eu entendo. E o que posso dizer é: para quem pariu e balança também é exaustivo. Mas nem sempre sofrido. E esse é um outro ponto que nos faz perder a escuta ativa de alguns que nos cercam.

Foto: Vanessa Aragão

Quando escolhi o título, pensei que seria bom mesmo que as mulheres, na hora de embarcar no navio da maternidade, pudessem tomar uma pílula e, assim, se preparassem para toda a avalanche que vai cair sobre suas cabeças. Seria massa! rsrs


Mas não dá. Quem cuida de alguém, sobretudo quando ainda é um pacotinho que nem sabe falar, não consegue aprender tudo num dia,

porque na verdade a gente passa o resto da vida aprendendo e buscando soluções para as coisas inusitadas que acontecem.


Estou, obviamente, falando do meu lugar. Mãe preta, de uma menina preta, no Brasil racista, na Bahia que ainda usa mulheres pagando pouco por seus corpos. E, quando eu fiquei grávida, eu tive muito medo de como ensinar a ser honesto, como ensinar a se defender, como orientar para andar pelo certo, como orientar sobre o cuidado com seu corpo, sua saúde, sua alimentação, sua espiritualidade. Falhei miseravelmente. Tenho subidas leves, e descidas de dar vontade de gritar, tal qual uma montanha russa o dia todo, todo dia.


A gente sabe que a criança cresce e suas demandas vão mudando. Quando eu digo a gente, estou falando de você também. Você que tem uma amiga com bebê e faz questão de reforçar o quanto a vida dela acabou, o quanto ela não se encaixa mais em rolê nenhum e o quanto essa escolha faz dela uma mulher antiquada e integrante de um grupo que merece menos respeito.


Sim, muitos amigos adotam esse comportamento, quase como um botão automático, acionado pela mulher que engravidou, tirando dela diversas possibilidades. Inclusive de sentir falta da vida de antes. Já que, para todos, é óbvio que ela engravidou porque quis.


Mas o engraçado é que todas essas pessoas que escolhem não fazer parte da rede de apoio, são as mesmas que opinam de forma bem dura sobre a condução dessa maternidade. Porque daquele pódio, onde elas estão no topo e sem filhos, elas sabem exatamente o que é certo sobre comer, ver tv, brincar ao ar livre, castigos pelas rebeldias infantis, etc.


O que eu preciso dizer é que boa parte de nós, mães, mesmo que ainda tenhamos um relacionamento, já nos culpamos, já nos arrependemos, já nos cobramos e já nos sentimos péssimas. Não precisamos de ajuda para isso! É importante você abrir espaço para ela passar cheia de sacolas e crianças ou se oferecer para segurar ou aumentar o volume do seu fone de ouvido quando uma das crianças dela chorar perto de você.


Se for do tipo que tem acesso ao endereço de uma mãe, mande comida. E se você for lá, segure a criança para ela dar uma respirada de 5 segundos. Porque ela mesma não vai demorar, ela já se sente incomodando você, só por existir com o filho dela. E se ela sair com você, sem o filho, não pergunta com quem ela deixou, não diz que ela deveria ter levado a criança pro rolê.


Vocês reclamam tanto das mães e não deixam que elas escolham ser também mulheres. As mães amam seus filhos, querem ficar grudadas, querem viajar sem eles, querem sair para a putaria e querem apenas fazer isso sem mais perguntas.

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