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Foto do escritorEvelyn Sacramento

Vamos fazer um trato?


Foto: Anete Lusina

Trago comigo uma memória muito fofa de um dia comum em Salvador. Estava saindo do metrô com minha prima e vi uma menina me olhando, ela se aproximou sorrindo e disse: “Tia, a senhora é linda!”, seguindo seu caminho. Acredito que nem ouviu meu agradecimento sem graça, seguido de uma reclamação por ter sido chamada de tia por uma adolescente.


É interessante como um elogio vindo de uma completa estranha está entre minhas melhores memórias, e então eu penso que, da mesma forma que as críticas marcam minha existência, os elogios desempenham o mesmo papel, e se eu me sinto melhor com os elogios sinceros, são para eles que devo olhar, em respeito a mim própria.


Acredito num mundo em que olhar para as pessoas e elogiá-las seja uma importante forma de estar no mundo, fazer dessa pequena passagem nesse espaço com significado para os outros é muito simbólico para nossa trajetória.


No mês passado viralizou um vídeo da atriz, Joy Sunday contando que foi numa viagem à Bahia que ela se sentiu bonita pela primeira vez. Na entrevista ela conta que quando criança participou de um programa de desenvolvimento de jovens negras, e através desse projeto veio à Salvador. Num dos passeios, encontrou por acaso três senhoras, que começaram a elogiar a menina, ela disse, “essa foi a primeira vez, que parei para pensar em mim como uma pessoa bonita”. Foi uma frase, uma benção que ecoou em sua vida até hoje.


O que essas três senhoras e a adolescente que encontrei têm em comum é a forma generosa com que elas se dispõem a enxergar a vida, e principalmente os outros, sem querer, no entanto, nada em troca com isso.


Vamos fazer um trato: é importante quebrar os ciclos de críticas e não compactuar com ambientes hostis, o mundo já é bastante injusto para nos colocarmos como agentes desse caos, é necessário olhar para os outros com o respeito que desejamos receber. E além disso, é também imprescindível acolher graciosamente os elogios, e entender que sim, merecemos ouvi-los.


Com esse texto gostaria de agradecer a menina do metrô que mudou meu dia e aqueceu minhas memórias.

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