“Eu tô bonita” essa frase vagueou pela minha mente ao passar pelo espelho do banheiro. Não, eu não emagreci, nem minha pele está mais viçosa - essas que talvez fossem premissas para se professar tal elogio para si, em alguns contextos. Só estava eu, com a boca avermelhada, o cabelo crespo com meus cachos modestos, minha farda e um crachá, refletindo no pequeno espelho do banheiro. Apenas praticando o exercício de olhar para mim, com olhos mais doces.
Tenho usando mais dourado ultimamente, colares, argolas, pulseiras, um anel em cada dedo, ando como se carregasse ouro nas mãos, mas me enfeito com bijuterias folheadas. Lembro de uma frase atribuída à senhora das águas doces, "Oxum lava as suas jóias antes de lavar os seus filhos".
Essa frase é sobre vaidade, mas não só, é também sobre autoestima. Sabendo que como mulher negra, a minha imagem caminha na linha tênue entre a invisibilização e a hipersexualização. Oxum me ensina a brilhar, é ela que sopra em meu ouvido palavras doces quando me miro no espelho, porque só ela viu quantas lágrimas já derramei por não me enquadrar.
Eu não tenho jóias. Estou jogando em todas as frentes para que minha vida seja de puro ouro. No primeiro dia do mês sopro canela de fora pra dentro, pedindo aos Deuses que a prosperidade entre pela porta da frente e aqui permaneça, incenso a casa, repito mantras de proteção, não pulo nenhuma corrente contra o azar. Eu fiz um contrato selado comigo mesma de nunca mais faltar contra mim, e assino em baixo todos os dias desde então.
Aprendo com Oxum, que sou a minha prioridade, e se desejo que qualquer palácio se erga, em primeiro lugar eu preciso estar de pé. Por tantas vezes que o mundo e as outras bocas queiram me fazer acreditar do contrário, tantas e incansáveis vezes irei gritar aos quatro ventos que depois de mim, vem eu mesma.
Carrego comigo um ensinamento que aprendi com Makota Valdina (1943-2019), - referência para o título desse texto -, em vídeo publicado em 2012, ela diz: “Nós somos como o sol. Todo ser humano nasce a cada dia, se expande como o Sol e cai no horizonte para renascer. A gente está no mundo para brilhar, para ser feliz!"
BRILHA!
Esse é o primeiro texto que escrevo em primeira pessoa, de modo tão pessoal e que
compartilho. Essa é a coluna BRILHA! Nos vemos quinzenalmente neste espaço, onde falarei sobre gente que brilha, assim como eu e você!
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