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Olhos d'água (2016), Conceição Evaristo

Olhos d'água é uma antologia de contos escrito por Conceição Evaristo e lançado, pela primeira vez, em 2013, pela Editora Pallas (tendo já diversas reimpressões) e foi o primeiro livro a ser resenhado no canal LMN, abrindo os trabalhos em março de 2019 com aquela resenha do jeitinho da Dri (e você pode conferir a seguir!).

Outro marco desta obra no LMN é que ela foi a escolhida em um dos nossos encontros, lá no início, que ocorreu em março de 2017, juntamente com o

Leia Mulheres de Salvador, no Museu de Arte da Bahia.

Leia Mulheres Salvador + Lendo Mulheres Negras
(Da esquerda para a direita) Eduarda Sampaio, Paula Gabriela, Evelyn Sacramento, Paula Janay, Ilmara Fonseca, Joana Mutti e Adriele Regine

É sempre bom lembrar desse momento de coração quentinho, que foi de uma beleza, uma densidade, a primeira vez que saímos do nosso reduto o CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais), onde sempre ocorria nossos primeiros encontros e nos fez conhecer muita gente que nos acompanharia no decorrer dos anos. Esta obra é muito importante para nós, um dos livros que sempre indicamos e que nos permitiu viver muitas coisas valiosas nessa trajetória de seis anos. E, não poderia ser diferente, ao abrir mais uma parte dessa nossa história iniciar com Dona Conceição e Olhos d’água!

Foto: Lis Pedreira

E para quem não teve a chance de conhecer Conceição Evaristo, aqui apresento mais dessa nossa deusa nascida numa favela da zona sul de Belo Horizonte, teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, até concluir o curso normal, em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso público para o magistério e estudou Letras na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Na década de 1980, entrou em contato com o Grupo Quilombhoje, mas a sua estreia na literatura só ocorreu em 1990, tendo os seus textos lançados na série Cadernos Negros, coleção importantíssima para a literatura negra brasileira, e grande responsável, anos depois, pela formatação do livro Olhos d’água, já que alguns contos fazem parte de livros das coletâneas lançadas pela editora, como ela aponta nesse vídeo referente a obra.

Em Olhos d’água Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Em Olhos d’água estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira. Fonte: Pallas Editora

São 15 contos que constroem o caminho do livro e nos faz refletir sobre uma infinidade de temas e condições de (sobre)vivência, numa dimensão que é impossível descrever, mas nitidamente possível sentir. Uma escrita fílmica, por vezes doloridas como em ‘Di lixão’, outras esperançosas como o conto final

‘Ayoluwa, a alegria de nosso povo’. Em tempos, Conceição nos cobra

responsabilidades, em outros nos lembra o motivo de ainda estarmos aqui e assim vão se construindo as oscilações emocionais entre a obra e o leitor. Muito o que senti em 116 páginas com fontes azuis e respiros prolongados, ora preso como um grito na garganta, ora recobrando o fôlego como se o mundo inteiro paralisasse. E todo esse conjunto de palavras-sentimentos fizeram de Olhos d’água ganhador do Prêmio Jabuti (maior premiação literária brasileira) em 2015 na categoria contos, e firmou o lugar de Evaristo na literatura brasileira, assim como na escrita de mulheres negras e todo o mundo.


Conceição é Mestra em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Importante frisar que Olhos d’Água não foi o primeiro livro publicado da autora, esse título fica com o romance Ponciá Vicêncio, de 2003. Mas as obras de Evaristo costumam abordar temas como a discriminação racial, de gênero e de classe.


Há outros livros que passaram por aqui também (até porque Conceição Evaristo é uma de nossas autoras favoritas!) como ‘Insubmissa Lágrima de Mulheres’ (2016), livro de contos em que a escritora assume o papel de uma contadora de histórias,

trazendo com muita força a subjetividade de diferentes mulheres, que ela vai encontrando em seu caminho, lançado pela Malê Editora e resenhando no canal LMN pela deusa Evelyn Sacramento.


E a história de Ponciá Vicêncio, que descreve os caminhos, as andanças, as marcas, os sonhos e os desencantos da protagonista. Conceição traça a trajetória da personagem da infância à idade adulta, analisando seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os amigos. Discute a questão da identidade de Ponciá, centrada na herança identitária do avô e estabelece um diálogo entre o passado e o presente, entre a lembrança e a vivência, entre o real e o imaginado.


Lançado pela Pallas Editora, a obra fez parte do podcast ‘Palavra de Mulher Preta’, lançada em março de 2022 e que, ao todo foram 30 episódios, que trazem biografia das homenageadas e trechos de algumas obras.

Dentre elas, escritoras baianas como Juciane Reis e Jovina Souza; nacionais como Carolina Maria de Jesus e Jarid Arraes, e internacionais como Abi Daré e Françoise Ega e você pode conferir em todas as plataformas de áudio, no site, canal LMN e no nosso Instagram.

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