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Gente real: feita de carne, osso e sangue

Mulher negra com tranças costurando um tecido com búzios.
Foto de cottonbro studio

Passei a última semana inteira, matutando sobre a minha capacidade de sonhar e acreditar que dias melhores virão. No fim, entendi que eu tenho uma fé, daquelas que te fazem confiar em andar de olhos fechados. Mas também aprendi muito sobre a minha habilidade de reconhecer que estou me aproximando do limite, ainda que os veja de uma distância segura. Durante muito tempo eu estiquei a corda, o máximo que pude, e fiz remendos, costurei, coloquei emendas e retalhos de todas as texturas e tamanhos. Nada adiantou para sempre, porque quando a tensão é depois, o fio rasga, a linha rompe e não tem como impedir o corte. Agora, me percebo muito calma, observando com total atenção o movimento dos panos. Posso ver logo no começo, quando o desgaste ainda está bem discreto. E a partir desse encontro, do meu olhar com o minúsculo furo, eu vou saber qual espessura de linha será necessária para fechar a fenda. Não preciso esperar que piore, não preciso me deixar desprotegida e machucada de novo, eu posso, tenho o direito de fazer os ajustes desde já, e assim, me permitir ter fôlego para seguir, usando esse mesmo vestido, em muitos bailes, mas sem expor demais a minha pele, nem as feridas marcadas com sinais de fogo.

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