Chego devagar, na maciota, depois de tanto tempo sem nossos encontros quinzenais. Sabe como é, né?! A vida deu uma cambalhota com duplo carpado e eu não consegui fincar os dois pés no chão com a estabilidade necessária para que as palavras ecoassem por aqui. Mas, como sempre uma boa filha à casa torna! As palavras não me abandonaram em nenhum segundo, só o texto rodando na minha cabeça.
E, por incrível que pareça, todo esse desequilíbrio tem muito a ver com o que desejo compartilhar com vocês nessa quinta-feira chuvosa (pelo menos aqui no meu país, Salvador! rs). No fim de 2022, eu entendi que eu precisava mesmo era cuidar de mim no ano que estava se iniciando, e o cuidar estava diretamente atrelado ao corpo e à saúde mesmo. Minha intenção era me sentir mais bonita e mais confortável na pele em que habito. Comecei esse processo com um belo check-up, daqueles que te revira inteira, passei uma infinidade de raivas com médicos que sequer me olhavam, mas também descobri gente muito boa que faz do projeto saúde também lugar de acolhimento.
Testei novos produtos para pele, ansiei mudar o corte de cabelo, até voltei à prática de atividade física com mais afinco. Aprendi técnicas de respiração e posições de yoga. Passei a me sentir melhor, mas as mudanças, elas não ocorrem de uma vez e para sempre né?! Pois, o primeiro trimestre desse ano, negligenciei por infinitas vezes o meu querer e não foi por nada muito drástico ou dramático. Negligenciei por preguiça, por procrastinação, por desanimação, por desinteresse até. Desisti por achar que talvez eu não fosse mesmo capaz disso. Nunca fui o exemplo da vaidade. Muitas vezes nem sou generosa comigo, nesse aspecto do cuidado externo. Sou, em outras áreas, aprendizado e inteligência, por exemplo. Mas, no caráter beleza sempre me escondi mais e admirei distante minha mãe, minhas tias-avós, primas, amigas.
Sempre achei que era menos mulher ou menos feminina por isso. Sempre acreditei que não merecia ou não tinha tempo para tantas 'frescuras'. Para muitas pessoas isso nem faz sentido se tratando de uma pessoa estilosa e, acredite, para mim também não faz muitas vezes, ainda mais com o compromisso com a imagem que tenho. Esse incômodo foi se ampliando ao longo desse primeiro trimestre, foi virando um engodo pesado no estômago, subindo pela garganta, até conseguir verbalizar muito porcamente o que estava me revirando há anos. Não foram só seis meses ou a pandemia me descortinando. Há muito anos, eu não sabia decifrar o desconcerto diante da admiração do cuidado que o outro tem consigo e que não cabia em mim.
Quando Lugana (de) Olaiá, nos trouxe em sua coluna 'Sem Cortes' o texto 'Notas para abraçar seu corpo inteiro' (fica a dica!), o que estava ali, sem uma definição exata, gritou em mim e junto com ela, me desafiei. Coloquei no mundo a minha vaidade, ali acanhada e minúscula para trabalhar. Sem nem pensar: matrícula na academia, gel de limpeza facial, cremes novos de cabelos, brincos, maquiagem, esmaltes, roupas. Sem nem pestanejar volto a me olhar no espelho, mesmo a vida girando em 360º, a pausa para beber água, um banho demorado com óleos essenciais. Sem nem cogitar, volto à vida e volto em grande estilo... lá se foram 21 dias, um mês e sem querer-querendo uma nova ordem de me fazer feliz e bem.
Descobri que mereço, sim, uma boa comida, um bom vinho, um almoço num lugar especial. Mas, mereço mais ainda, olhar no espelho e sorrir para mim e para a minha beleza construída nas descobertas dos altos e baixos de uma vida incerta, mesmo com tantos planos.
Estou de volta, vem comigo?
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