Dizem por aqui que o ano começa só depois do carnaval. Ouso dizer que ele começou mesmo essa semana para mim. Sigo ainda meio ressabiada com a avalanche de coisas que essa abertura de ano trouxe. E um tanto ressaqueada com os anos pandêmicos, tentando me aprumar no passo da vida veloz.
Nesse processo de reorganização e retorno às dinâmicas, me veio uma lembrança bonita da infância que me possibilitou pensar em como sigo nessa gira. Andando na praia, numa manhã quente de verão (quase poético, rs), uma amiga me propôs que retornássemos o caminho que fizemos, para que pudéssemos dobrar nossa meta fitness. Eu, categoricamente disse não! - Que nada, negócio de andar para trás, eu só ando pra frente! -, falei sem nem pestanejar ou duvidar da minha afirmação.
Essa minha amiga, que é daquelas que adora filosofar sobre todos os assuntos, super sagaz, me perguntou de onde isso vinha. E a memória veio à tona, cristalina como as águas de mamãe:
Quando criança, minha tia-avó sempre me levava com ela para caminhar no calçadão da praia. Eu, super ativa, saia correndo desembestada na frente, uma reta sem fim bordeando a areia e a imensidão azul. Em certo ponto, parava e olhava para trás, me certificando de que ela continuava ali, no meu campo de visão (e eu no dela). Tomava um fôlego, esperava ela se aproximar e seguia na minha corrida com o vento. A certa medida, que não lembro bem como era calculada, minha tia-avó fazia o retorno para que pudéssemos seguir na caminhada e assim voltar para casa.
Esse era o exato momento que mais odiava. Para mim, era como se a minha corrida não valesse a pena. A aposta que eu tinha feito, não havia sido concluída, porque eu não estava disposta a ver o que já tinha visto, eu queria o novo. Queria descobrir o que havia depois daquela praia. Queria seguir e seguir, sempre para frente. Retornar não era opção.
E ali, parecia que todo o peso da corrida se instalava em mim. Não tinha água de coco ou mergulho que saciasse a minha vontade de seguir adiante, de seguir o vento e continuar a corrida que apostei.
Como boa ariana que sou, a mesmice me dá marasmo. E os sinais estavam todos postos desde sempre. Seja na corrida da criança, seja na escolha da profissão, seja nos estudos. O que me move é o olhar atento para o que tá logo mais ali, na descoberta do que virá, na trilha do encanto que transforma tudo. Mas isso não quer dizer que deixo de correr e brincar com o vento no agora ou que não paro para tomar fôlego e olhar para trás, para lembrar o que é importante. O que se torna insustentável nessa jornada é o retroceder.
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